domingo, 14 de março de 2010

Multiplicidade de papéis é sinônimo de mulher moderna

Entrevista Folha Metropolitana - 8 de março 2010

Multiplicidade de papéis é sinônimo de mulher moderna

por Simone Cunha

O Dia Internacional da Mulher completa 100 anos. E, de 1910 para cá, quando foi instituída a data oficialmente, o público feminino foi conquistando o seu espaço. Hoje, as mulheres desempenham uma multiplicidade de papéis: esposa, mãe, dona de casa, profissional e carrega a cobrança de ser perfeita em tudo. “Enquanto as expectativas da sociedade em relação às mulheres mudaram, o suporte que ela recebe – do marido, da família e da sociedade – seguramente não acompanhou esta evolução”, afirmou a psicóloga Sheila Skitnevsky Finger, sócio-fundadora do Instituto Mãe Pessoa (www.maepessoa.com.br).

Para a especialista, criou-se para a mulher de hoje uma expectativa irreal, de somar casa, família e trabalho, sendo os dois primeiros nos moldes antigos e o trabalho como se ela não tivesse mais nada para cuidar. “Ela deve trabalhar como um homem, mas viver como uma mulher antiga”, acrescentou Sheila. Porém, não se trata de desvalorizar a emancipação conquistada ao longo dos anos. “Trata-se de conscientizar sobre o mito de ideal aplicado à mulher e propor algo mais real e satisfatório”, considerou Tânia Novinsky Haberkorn, psicóloga e sócia do Instituto Mãe Pessoa.

Aos poucos, o público feminino vem equilibrando com mais eficiência todos esses papéis. E isso tem um custo emocional, pessoal e social. “Entretanto, este aprendizado é pessoal e intransferível. Manuais são de pouca eficácia. Cada mulher tem que descobrir como dar conta de tantas demandas levando em conta a realidade de sua família, expectativa em relação à maternidade e ambições sociais e profissionais”, explicou Tânia. Vale destacar que não é apenas a figura feminina que deve adaptar-se às mudanças, mas a sociedade como um todo. “O conceito é de que todos farão concessões e estabelecer condições para que o sistema encontre um equilíbrio”, completou Sheila.

A carreira em primeiro lugar

“Ser mãe não está na minha lista de prioridades”, confessou a médica Solange Mayumi Shiguemoto, 38 anos, casada há oito. Ela trabalha quase 12 horas por dia e se engravidasse o trabalho ficaria comprometido. “Não quero ter um filho para deixá-lo em escola, o dia todo. Por isso, vou adiando a maternidade. A mulher moderna não precisa ser mãe para se realizar, a profissão cumpre bem essa função”, afirmou.

As psicólogas atentam que escolher investir 100% na carreira e abrir mão da maternidade é uma escolha. “Todas as escolhas têm conseqüências futuras, mas a decisão dessa mulher tem de ser respeitada. Afinal, existem outras maneiras de exercer a maternidade que não necessariamente passa pelo ato de ser mãe”, disse Tânia. E, se em algum momento, ela quiser rever sua escolha, terá que criar espaço em sua vida para tal experiência. “Pode ir da adoção formal até participação mais ativa na vida de um sobrinho”, explicou Sheila.

E a médica Solange está ciente disso. “Não digo que não terei um filho, mas não planejo. Sei que mais tarde, posso ter vontade, mas é preciso fazer escolhas e assumi-las”, afirmou. Para ela, que trabalha muito para garantir um futuro mais tranqüilo, pode existir uma vantagem em não ser mãe. “Poderei curtir e viajar com o meu marido sem preocupações com escola ou alimentação. Um filho sempre limita”, considerou.

Dedicação total aos filhos

“Minha profissão ficou pequena demais diante dos meus filhos”, analisou Vanessa Caubianco, 32 anos, que está realizada cuidando dos “lindos” gêmeos, Patrick e Manuela, com nove meses. Formada em jornalismo e publicidade, Vanessa afirmou que sempre foi workaholic (viciada em trabalho), e ao engravidar imaginou que não agüentaria ficar de licença-maternidade por dois meses. “Fiquei quatro meses em casa, emendei com um mês de férias e foi muito difícil voltar à rotina profissional. Agüentei quatro meses e desliguei-me da empresa”, afirmou a mamãe.

A psicóloga Tânia Novinsky Haberkorn lembrou que o importante é estar consciente de suas escolhas. “Apesar das limitações que todas enfrentam, ciente da sua decisão ela se sentirá mais satisfeita consigo própria e com a maternidade”. Para Vanessa, abrir mão da carreira valeu a pena, pois ela passou a ter mais flexibilidade para ficar com os seus bebês. “Só não podia deixá-los tomar conta da minha vida. Sou uma boa mãe, mas não me privo das coisas que eu gosto. Cuido de mim, dedico-me ao casamento, criei um blog (mamydegemeos.blogspot.com) e estou escrevendo um livro sobre a experiência de ser mãe de gêmeos”, contou.

É fundamental que a mulher/mãe não se sinta sem opções. “Ela deve manter interesses próprios e definir a qualidade de tempo que se dedicará aos filhos. Não adianta passar 24h com os pequenos e estar sempre buscando outras coisas ou se sentindo frustrada por não estar em outro lugar”, concluiu Sheila Skitnevsky Finger.